“E que,
havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz...
reconciliasse
Consigo mesmo todas as coisas” (Cl 1:20).
“Paz pelo sangue da Sua cruz”. Os professores
gnósticos sugeriam a necessidade da mediação de anjos. Eles declaravam a
necessidade de práticas ascéticas, incitando humilhação voluntária e até a
adoração de anjos. Paulo, reconhecendo a necessidade da reconciliação, não
meramente entre nós e Deus, mas entre todas as partes do universo, nos céus
assim como na terra, declara que isto está providenciado no “sangue da Sua
cruz”.
Em conexão com isto é necessário esclarecer que
quando falamos da cruz nos referimos não somente a uma forca romana e à morte
de um homem. Se Aquele na cruz fosse apenas um homem então todo este escrito do
apóstolo não seria apenas tolice, mas uma miragem e um pesadelo, uma ilusão e
um ardil. Por outro lado se Aquele na Cruz for a Imagem do Deus invisível, o
Criador e Sustentador original, o Primogênito saído da morte para a vida, então
na presença da Sua Cruz começo a tremer e ainda a crer na declaração de que
através daquela Cruz Ele reconcilia todas as coisas a Ele mesmo, na terra e nos
céus.
Através desta Cruz há primeiro a reconciliação das
coisas na terra.
O processo é lento quando contamos o tempo. A
labuta é uma agonia, o conflito é para a morte, mas a vitória é segura. Esta
vitória é a reconciliação de todas as coisas na terra, primeiro do homem com
Deus, e então de toda a criação com o homem nesta paz de Deus que emana do
estabelecimento do Seu trono e da relação correta de todo o reino com isso.
Através desta Cruz há também a reconciliação de
coisas nos céus. Trazemos à lembrança a figura dos anjos desejando examinar
essas coisas. Quando eles assim fizeram, se tornaram consciente do mistério
inescrutável na hora em que Jesus morreu. Era o mistério da morte do ser puro e
sem pecado, e por isso imortal. Pessoalmente, não posso ter nenhuma dúvida
sobre a exatidão literal da história bíblica que na hora daquela morte o sol se
escureceu. Aminha admiração às vezes é que alguma vez brilhasse novamente. Os
anjos viram no mistério uma revelação.
Eles conheciam a Pessoa que viram morrem, e
reconheceram que a morte de Cristo devia ter um algum significado profundo nos
propósitos de Deus. Através da morte do Senhor viram o homem reconciliado com
Deus. Eles viram a salvação provida para o pecador na libertação do pecado.
Eles viram que a cooperação resultante dos santos, quando, conformados com a
Sua morte chegaram ao conhecimento vivo Dele, compartilharam o poder da Sua
ressurreição e entraram na comunhão dos Seus sofrimentos. Eles viram estes santos
conduzirem por toda a criação de Deus a renovação que tinha refeito as suas
próprias vidas.
Que efeito teve aquela obra vinda da paixão e o
poder do amor de Deus sobre os anjos que observavam? Era para eles uma nova
revelação de Deus. Naquela Cruz eles O viram como nunca O tinham visto. A luz
da Deidade brilhou mais alva, pois a santidade foi vindicada como nunca fora
antes. O amor da Deidade brilhou mais vermelho, pois a compaixão foi
manifestada mais perfeitamente. A vida da Deidade foi percebida mais plenamente,
pois todos os seus valores foram revelados mais absolutamente. Posso imaginar
que, quando o Senhor Jesus Cristo morreu e todas as questões da Sua morte lhes
foram reveladas, os anjos tomaram emprestada a canção do Salmista e cantaram:
“A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Sl
85:10).
Se não há pecado, a lei e o amor nunca estão fora
de harmonia um com outro, a verdade e a graça vão sempre de mãos dadas, a
justiça e a misericórdia cantam um hino comum. Se a lei for quebrada o que deve
o amor fazer? Se a verdade for violada como a graça pode operar? Na presença do
crime como a justiça e a misericórdia podem se encontrar? Este é o problema dos
problemas. Não é um problema entre Deus e o homem.
Não é um problema entre Deus e os anjos. É um
problema entre Deus e
Ele mesmo. É respondido na Cruz: “Deus estava em
Cristo”, desde a eternidade e seguramente também na hora da Cruz. Assim, a
despeito de todo o sofrimento consequente no conflito dentro da Sua própria
natureza, Ele encontrou o caminho da reconciliação. Pelo sofrimento operado na
história humana e em todas as eras, através da Cruz, Ele demonstrou que o amor
encontra a lei quando ele sofre e a cumpre. A graça satisfaz a demanda da
verdade resolvendo todas as questões da sua violação, e a misericórdia pode
operar na base da justiça, não porque Deus esmagou e afligiu a outro, mas
porque, em um mistério que confunde e contunde o intelecto quando tenta
abrangê-lo, Deus reuniu tudo em Seu próprio coração e sofreu para reconciliar
todas as coisas por Ele mesmo.
Assim, como Cristo é o Centro, a Fonte, e o Alvo do
universo, a
Sua Cruz é o centro, a fonte, e o alvo da reconciliação. A carta aos
Efésios é o complemento de Colossenses, nela o Apóstolo ensina que pela Igreja
a sabedoria de Deus deve ser manifestada aos principados e potestades nos
lugares celestiais. Cristo e o Seu povo redimido devem exercer um ministério
além daquele de hoje por todas as eras por virem. Este ministério deve ser o de
uma revelação da coisa mais profunda no coração de Deus, o amor que, operando
através do autoabandono e sacrifício, resgatou, redimiu e refez a humanidade
perdida. Os anjos ouvirão a música do amor quando os redimidos cantam, “a muito
antiga história de Jesus e Seu amor”. Eles são os filhos da manhã, as
inteligências não caídas que nunca conheceram as misérias do pecado ou a sua
poluição, mas devem silenciar os seus elevados hinos enquanto os redimidos
cantam:
“Ele nos amou, e se deu por
nós”.
Assim para todo o universo e para as últimas eras
sempre procedendo na beleza do ser de Deus, a Cruz permanecerá a revelação
suprema de Deus, através da qual toda a criação chegará a uma compreensão da
Sua santidade e do Seu amor, as coisas mais profundas e mais verdadeiras do Seu
ser.
Que tema! A imaginação é completamente
incapaz de abranger toda a sua gloriosa verdade. Sonhamos com o nascimento das
incessantes eras, das novas criações, jorrando como manhãs frescas da Sua
sabedoria e da Sua força. E, quando em progressão infalível elas aparecem,
Cristo e Sua redimida Igreja cantarão a eles a canção da redenção. Embora
conheçam a força e a majestade de Deus na maravilha de suas deles, somente
chegarão a uma verdadeira apreensão do Seu coração quando lhes dissermos que
Ele nos amou e nos libertou dos nossos pecados pelo Seu sangue.
'Na Cruz de Cristo me glorio,
elevando sobre as destruições do tempo, toda a luz da história sagrada se reúne
em torno da sua sublime fonte'.
Através daquela Cruz todas as coisas nos céus devem
ser reconciliadas e a paz infinita deve seguir, e ouso confiar nisso apesar de
todo o meu pecado e toda a minha fraqueza. A propósito daquela Cruz sou
reconciliado a Deus e através dela encontro descanso infinito, eterno e
imortal. Finalmente o meu descanso será o descanso com toda a criação, pois a
ordem cósmica será restaurada pelo mistério do sofrimento de Deus conforme
revelado na Cruz.
Notas
Do livro: The Bible and the Cross (A
Bíblia e a Cruz).
Fonte : www.editorarestauracao.com.br
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