“Não entristeçais o
Espírito de Deus” (Ef
4.30).
Possivelmente, foi devido à extraordinária
mansidão do Espírito Santo que o Senhor Jesus proferiu penalidades tão graves
contra aqueles que pecassem contra ele. Nem tudo o que entristece o Espírito
Santo deve ser classificado como o ato terrível que as Escrituras chamam de
pecado contra o Espírito Santo, aquele que não será perdoado por toda a
eternidade (Mc 3.29). Porém, uma vez que alguém começa a descer pelo caminho
desventurado de indiferença e endurecimento, nunca se sabe até onde poderá
cair. Por isso, vigiemos contra qualquer princípio de atitude que possa
conduzir àquele terrível ato descrito pelo apóstolo como ultraje ou afronta ao
Espírito da graça (Hb 10.29).
Em primeiro lugar,
podemos apagar o Espírito (1 Ts 5.19). Talvez,
essa advertência se refira mais à obra pública do Espírito na igreja do Senhor
e no coração de outras pessoas do que aos seus tratamentos particulares no
nosso próprio coração. Podemos desencorajar a obra do Espírito e a liberdade de
adoração e testemunho por aspereza e atitudes críticas. Podemos deixar de
obedecer, por timidez ou resistência, aos seus impulsos no próprio coração,
instigando-nos a testificar do Senhor ou a falar a alguém sobre seu futuro
eterno. O ministro de Cristo pode apagar o Espírito por questões materialistas
ou sensacionalistas, ou por desencorajar o espírito de oração, separação do
pecado e avivamento na igreja. O Espírito é apagado por interesses
materialistas, vaidade e prazeres carnais. É apagado também por desvios da
verdade, fanatismo e arrogância religiosa.
Cultivar prazeres carnais e ambições pessoais
ao invés de sondar humildemente o coração e levar o amor de Cristo a outras
pessoas – essas coisas apagam o Espírito Santo. Nada afasta mais o seu poder de
avivamento do que contendas, controvérsias, atitudes críticas e espíritos de
divisão no meio do povo de Deus. Conversas frívolas a respeito da casa de Deus
e de coisas sagradas muitas vezes apagam a influência do Espírito Santo e o
impedem de trazer convicção aos corações.
Uma mulher estava rindo e falando com seu
marido, depois do culto, sobre algumas das peculiaridades do pregador. De
repente, ela sentiu que o braço do marido estava tremendo; ao olhar para o
rosto dele, viu lágrimas. “Ore por mim”, ele disse. “Vi a mim mesmo esta noite
como nunca antes havia visto.” Caindo em si, ela viu o próprio pecado e
leviandade. Podemos apagar o Espírito na nossa igreja; podemos apagar o
Espírito nos nossos filhos e ficar com o sangue de suas almas nas nossas mãos
para sempre.
Em segundo lugar, as
Escrituras falam sobre entristecer o Espírito Santo. Que quadro fiel
se pode perceber do Espírito por meio dessa palavra! Traz a ideia de uma pessoa
meiga e sensível, que não está brava, porém muito ferida. Podemos entristecê-lo
com nossas dúvidas e temores. Podemos entristecê-lo por ficar com reservas e
não querer nos consagrar totalmente ao Senhor. Podemos entristecê-lo por
desobediência e obstinação. Podemos entristecê-lo por ficar muito aquém da sua
plenitude. Podemos entristecê-lo com um coração dividido e a idolatria de
prazeres e desejos carnais. Podemos entristecê-lo por negligenciar sua Palavra.
Podemos entristecê-lo por nossa falta de amor a Jesus, a quem ele sempre procura
dar suprema honra e por cujos direitos ele arde em ciúmes.
Podemos entristecê-lo
quando alimentamos amargura, como vemos especificamente neste texto: “E não entristeçais o Espírito de
Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda
amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia” (Ef 4.30,31).
Podemos entristecê-lo por nosso egoísmo
espiritual, orando somente por nossas próprias necessidades e por ignorar o
mundo que perece em ignorância e pecado, enquanto ouvimos o Evangelho e
negligenciamos o clamor do nosso irmão.
Entretanto, há algo
ainda pior do que isso. Deus precisou dizer a algumas pessoas em tempos
passados: “Vós sempre resistis ao Espírito Santo” (At 7.51). O pecador resiste ao
Espírito quando procura se livrar de impressões ou toques vindos de Deus,
quando foge da convicção do pecado ou evita tomar uma decisão por Jesus. Ele
pode fazer isso de forma bem educada, pretendendo em “algum momento oportuno”
retomar o assunto; mesmo assim, o Espírito Santo pode identificá-lo como
rejeição, recusa ou insulto. Por isso, lemos: “Assim,
pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o
vosso coração…” (Hb 3.7,8).
É possível fazer tudo
isso num processo imperceptível, como quando um pedaço de ferro é aquecido e
esfriado inúmeras vezes até que se corrói e desfaz em pedaços. A têmpera foi
eliminada, e nada permaneceu a não ser escória. Deus disse de pessoas assim: “Prata de refugo lhes chamarão,
porque o Senhor os refugou” (Jr
6.30).
Nunca sabemos quando
podemos estar dizendo “não” a Deus pela última vez e quando ele está nos dando
o último convite. Justamente porque o Espírito é tão manso, paciente, longânimo
e desatento à sua própria honra e glória é que Deus afirmou: “De quanto mais severo castigo
julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e
profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?” (Hb 10.29).
Edward Payson (1783-1827 – pregador durante o
Segundo Grande Despertamento nos EUA) disse certa vez a um jovem amigo que
viera lhe falar a respeito de uma leve impressão espiritual que estava
começando a sentir: “Uma cordinha acabou de cair do céu e, por um instante,
tocou no seu ombro. É tão fina que você tem dificuldade para senti-la. Querido
amigo, agarre-a com as duas mãos, pois está amarrada ao trono de Deus e poderá
ser o último fio de graça redentora que receberá”.
Publicado originalmente no periódico “The
Alliance Weekly”, agora chamada “Alliance Life”, edição de 15 de outubro de
1949. Publicado com permissão.
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