“Se alguém está em Cristo, é uma nova criação; passou o que era velho, eis que se fez novo” (2Co 5:17).
Ao dispor-me para organizar os textos do estudo a seguir para a nossa meditação, fui profundamente sensibilizado em meu íntimo pela grandiloquência dos versos bíblicos e sua associação ao nosso tema proposto, e tive a sensação de estar extraindo apenas uma gota do oceano das “insondáveis riquezas de Cristo”, todavia, ao mesmo tempo, fui tomado pela convicção de que “em Cristo” se acha o tudo de Deus, de forma que vi pela fé, que Cristo é a suficiência de Deus para minha completa deficiência, pois nEle reside toda a plenitude da divindade. Nele estou aperfeiçoado, nEle tenho o tudo. Oro ao Pai no sentido de que, por sua graça, seja a oração do apóstolo Paulo aos Efésios e aos Colossenses estendida e aplicada a todos nós neste dia, e que o Senhor cumpra-se em nós conforme o seu eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus. (cf. Ef 1:16-23; 3:14-21; Cl 1:9-12). Que possamos ouvir a linguagem antes desconhecida, linguagem esta das boas novas em Cristo. “...onde ouvi uma língua que não entendia. Tirei de seus ombros a carga; as suas mãos foram livres dos cestos.” (Sl 81:5b,6). Que ao término desta exposição possamos dizer com T.A.Sparks ...“Eu tenho visto”. Eu não posso mais ser a mesma pessoa. Todo um regime é deixado para trás, e uma ordem inteiramente nova chegou para mim. Eu saí de algo e entrei em outro, e estou vendo. Estou vendo Cristo. “Este é o ponto central, caros amigos, da mensagem que trago a vocês”.
Estávamos em Adão; mortos em delitos e pecados, em trevas espirituais, sob o domínio do maligno e seu império, em escravidão espiritual, presos pelos laços do pecado, separados da vida de Deus e sob Sua ira, e a caminho do inferno... tudo era velho! Mas...”Ele nos deu vida estando nós mortos nos delitos e pecados...” (Ef 2:1-10), Aleluia! Em Cristo eis que tudo se fez novo! Em Cristo há novidade de vida. Jesus veio buscar e salvar o que se havia perdido, “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23). Aquele que não crê no Filho de Deus e em sua obra redentora, suficiente e consumada da cruz, está separado dele, permanece na morte, está em trevas e continua com a sua natureza corrompida, portanto, as coisas ainda permanecem velhas; não há nenhuma novidade de vida. O destino dos incrédulos inevitavelmente será a perdição eterna. Se eles morrerem nessa condição impenitentes, eles serão lançados no lago que arde com fogo e enxofre e jamais sairão de lá. Aqueles que forem lançados no lago de fogo terão de permanecer lá enquanto Deus existir. Alguém já disse com muita lógica: “Se você não nascer de novo, desejará nunca ter nascido”. Esta foi a ênfase de Jesus a Nicodemos, registrado em João 3:3-7; “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.”
Contudo, aquele que crê em Cristo Jesus e em sua obra redentora, suficiente e consumada da cruz e permanece nEle, passou da morte para a vida, é regenerado por Deus, anda na luz, como Deus está na luz, portanto, é nova criação; passou o que era velho, eis que se fez novo. Deus uniu-nos em Cristo na sua morte e ressurreição, e assim Ele refaz todas as coisas para a sua eterna glória. “Todos os dias podemos ver coisas novas em Cristo; o rio do seu amor não tem margem nem fundo”. Ao sermos inseridos em Cristo, o Senhor deu-nos acesso a toda sorte de benção espiritual, de sorte que somos altamente favorecidos no Amado. Nosso irmão Arthur White Pink, disse com muita propriedade o seguinte: “Existe algo, na admirável pessoa de Cristo, que se adapta exatamente a todas as nossas condições, a todas as nossas circunstâncias e a todas as nossas necessidades, tanto para o tempo como para a eternidade; no entanto, mostramo-nos lentos para perceber tal verdade, e mais lentos ainda para agir de conformidade com essa verdade. Existe uma plenitude na pessoa de Cristo (ver Jo 1:16), e que é posta em disponibilidade para dela tirarmos proveito. E o princípio que regula a profundidade com que nos tornaremos fortes na “...Graça que está em Cristo Jesus” (cf. II Tm 2:1), é “faça-se-vos conforme a vossa fé” (Mt 9:29).
Concordo com Pink; somente Jesus Cristo pode satisfazer plenamente as carências de um homem ou de uma mulher em todos os sentidos. E, juntamente com Charles Haddon Spurgeon afirmamos: “Não há nenhuma necessidade que não possa ser suprida por Jesus; não há vazio no coração que Cristo não possa encher; Não há um ermo que Ele não possa povoar; não há deserto que Ele não possa fazer florescer como a rosa”. “Ò Pai, nEle Tu tens me dado tanto, que nem o céu pode me dar mais!”.
Irmãos, a linguagem antes desconhecida é que pelo evangelho fomos gerados em Cristo Jesus, no que consiste a nossa união em sua morte, sepultamento e ressurreição, e pelo evangelho descobrimos as “insondáveis riquezas de Cristo” (cf Ef 3:8). Passo então a mostrar apenas algumas “coisas novas” que estão em Cristo – pois notem, suas riquezas são insondáveis, estender-se-ão por toda a eternidade, (cf 1ª Co 2:9-10 ; Ef 2:7), assim mergulharemos neste oceano de vida preparado aos filhos do Altíssimo. “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus... Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.”
Quando ainda em Adão, estávamos “sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo”, mas agora em Cristo apareceram coisas novas. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo.” (Ef 1:3). No contexto deste capítulo 1º encontram-se explícitas algumas bênçãos em Cristo; vejamos: (v.1) “santos... e fiéis em Cristo Jesus”. Nele fomos “chamados para fora do mundo”, separados para o supremo propósito de Deus, sendo-nos conferida a fé para a salvação. Disse o Dr. William Temple: “Ninguém é crente, se não é santo, e ninguém é santo, se não é crente”.
Notem, porém, amados, que o plano da salvação tem início em Deus e não pelo homem. Foi Deus que nos amou, foi Ele quem nos predestinou, foi Ele quem nos chamou, foi Ele quem nos justificou, foi Ele quem nos glorificou. “E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” (Rm 8:27-30). Foi John Trapp quem disse: “Deus escolheu-nos para seu amor e agora nos ama por causa de sua escolha”. Ó crentes, vocês vieram a crer somente devido à graça soberana de Deus em destinar-vos para a vida eterna. A menos que Deus os destinassem à vida, vocês jamais creriam em Cristo. “E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.” (At 13:48). W.J.Seaton disse: “Eleição não resulta de acreditarmos, mas nossa crença resulta de sermos eleitos”.
A nossa salvação é completa em Cristo, porque Cristo é a nossa salvação. Notem irmãos; o Espírito é por nós (ver Rm 8:26), Deus é por nós (v. 31) e Cristo é por nós (v. 34). A Trindade operam juntas na salvação dos filhos de Deus. Retornando ao livro de Efésios veremos algo muito significativo, isto é; as bênçãos que estão em Cristo são mediadas a nós da parte de Deus, por meio de Cristo, via o Espírito Santo. É pelo Espírito que contemplamos as riquezas e glórias de Cristo, bem como pelo mesmo Espírito elas passam a ser nossas, e pela contemplação desta glória somos transformados de glória em glória na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. Agora, em Cristo, temos as bênçãos divinas pronunciadas. Nele temos a graça e paz “A vós graça, e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!” (Ef 1:2). Em Cristo fomos escolhidos por Deus antes mesmo de haver mundo (v. 4). Nele fomos predestinados para a filiação divina (v. 5). Também nele temos a redenção e remissão (v.7), bem como termos sidos feitos herdeiros, segundo o seu propósito (v. 11). E para confirmar o fato de que somos dEle, por Ele e para Ele, recebemos o selo do Espírito Santo da promessa para o louvor da sua glória (v. 13.14). Foi neste contexto que Spurgeon salientou: “Cristo é a chave de todos os aposentos de Deus”. O céu encontra-se aberto para aqueles que estão em Cristo. “E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orando ele, o céu se abriu;”(Lc 3:21). Deus criou todas as coisas em seu Filho, por meio dEle e para Ele, exaltou-O acima de todas as coisas para que por intermédio dEle nós viéssemos a ser co-herdeiros com Ele.
Notem porém, irmãos, que a primazia não está nas coisas, mas em Cristo. “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.” (Cl 1:15-18). O Pai não tem “coisas” para oferecer-nos; Ele nos deu o seu amado Filho e com Ele todas as coisas. “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8:32) Lutero dizia: “Uma masmorra com Cristo é um trono; e um trono sem Cristo é um inferno”. Agora, tudo o que Deus tem preparado para o seu povo é de valor eterno, e Ele tem prometido coisas mui excelentes àqueles que o amam, sendo definidas como grandes e mui preciosas promessas, porém tudo o que Ele prometeu, tem a sua aprovação e cumprimento inquestionável, infalível e irrevogável somente em Cristo.
“Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim, Silvano e Timóteo, não foi sim e não; mas nele houve sim. Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós.” (2 Co 1:19,20). Na estima dos salvos, Cristo ocupa o lugar de preeminência. Ele é o anelo dos cristãos genuínos. “Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre.” (Sl 73:24-26). Cristo é o objeto do louvor cristão. “Assim os cantores como os tocadores de instrumentos estarão lá; todas as minhas fontes estão em ti.” (Sl 87:7). “Em si mesmos os crentes não possuem vida, poder e vigor espiritual. Tudo o que possuem em sua vida espiritual, procede de Cristo”, dizia J.C.Ryle. Jesus Cristo é a fonte da água viva. Jamais será esgotada a Fonte de vida em Cristo. Enquanto Deus existir, os salvos terão vida em Cristo Jesus. “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 4:14; 3:16). Os salvos em Cristo gozam a paz da justificação, porque Cristo foi feito justiça para eles da parte de Deus. “TENDO sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; PORTANTO, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;” (Rm 5:1; 8:1; 1 Co 1:30). A imagem divina que foi perdida no Éden pelo pecado, agora é restabelecida através de Cristo Jesus. “Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual.
O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o SENHOR, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial.” (1 Co 15:45-49). Jesus na cruz foi o substituto da raça adâmica; Ele foi o último Adão. Jesus Cristo ressuscitado é o cabeça da raça celestial; Ele é o novo homem. A imagem do homem celestial é Cristo mesmo. ” O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;” (Cl 1:15). O mistério de Deus escondido dos séculos e das gerações agora nos foi revelado por Deus (vs. 26,27). Tudo se fez novo. Fomos transportados para o reino de Cristo (vs. 13,14). “Em meu lugar sofreu a condenação, com seu sangue selou o meu perdão. Aleluia! Que salvador! (P.P.Bliss). Irmãos e irmãs, penso e prego que se um homem foi salvo por Jesus Cristo, jamais poderá perder a salvação, pois se pudesse perder a salvação, ele jamais seria absolutamente salvo. Graças a Deus, Jesus Cristo salva totalmente! Ele é o Sumo Sacerdote do Seu povo! “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” (Hb 7:25).
Totalmente! Plenamente! Absolutamente! Temos um Salvador competente! Alguém já disse: “Se um dia Jesus me fez Seu, para sempre Jesus é meu!”. O sangue precioso de Cristo tem valor eterno. “Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” (Hb 9:11-14). Por esse precioso sangue temos o privilégio de acesso à presença de Deus.
“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” (Hb 10:19-23). Cristo não nos mostra o caminho; Ele é o caminho. Cristo não nos mostra a direção; Ele é a direção. Agora, para o término de nossa reflexão neste ponto, consideremos a posição que fomos colocados em Cristo. No Espírito temos acesso à cidade celestial, à nova Jerusalém. “E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;.... Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; À universal Assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel.” (Ef 2:6; Hb 12:22-24).
Se alguém está em Cristo verdadeiramente é nova criação; passou o que era velho, eis que se fez novo. Cristo é o centro das verdades divinas. A centralidade de Deus está em Cristo. “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” (Rm 11:36). Concluo estas novas de grande alegria citando uma observação de Spurgeon : “Já ouvimos o pregador/ que esclareceu a verdade contundente/ mas precisamos de um Mestre maior/ do trono eterno provindo/ a aplicação é obra de Deus somente”. Amém!
Por: Levi Cândido
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